Por Renata Cantanhêde
Você quer outro filho?
A médica perguntou enquanto olhava os exames atuais. A resposta veio rápida e sincera: sim, eu quero. No entanto, a realidade é que ainda não é possível neste momento. E assim, me pego equilibrando entre o desejo e a contenção, entre criar expectativas e aceitar o que é.
Expectativas… essa palavra carrega consigo um universo de emoções. Esperamos que as coisas aconteçam do jeito que idealizamos, mas quando a realidade diverge, a decepção nos visita. É como se estivéssemos dançando na corda bamba entre sonhos e pragmatismo.
Confesso que ainda não aprendi a soltar e confiar quando me proponho a fazer algo, fico querendo que as coisas saiam do jeito que pensei. A famosa ilusão e necessidade de estar no controle visando principalmente segurança. Mas a vida tem suas próprias surpresas. Ela nos leva por caminhos tortuosos, nos desafia e ensina a flexibilidade.
É engraçado, pois sei que viver por si só é inseguro. Quem sabe o que vai acontecer no próximo instante? Ninguém. Existem tendências e possíveis caminhos, mas certezas? Só do que passou. É por isso que dizem para aproveitarmos bem o presente, nos conectarmos com o aqui e agora, a vida é o que é.
Quando eu era mais jovem, tinha uma lista mental de como seria minha vida. Funcionária pública concursada, carro, casamento aos 27 anos, três filhos e férias viajando. Algumas dessas coisas se concretizaram, não exatamente como imaginei. O primeiro carro veio aos 27, o casamento aos 32, o cargo público aos 33, e meu filho chegou aos 38. No meio desse percurso, enfrento uma doença autoimune e crises emocionais.
Agora, aos 41, a pergunta sobre outro filho ressoa em mim. Desejo sim, mas há obstáculos. E quando me permito falar sobre isso, as lágrimas vêm. Há tristeza, medo e, às vezes, falta de fé. Para diminuir essa dor por vezes me abraço com o lado ruim da maternidade.
Ser mãe não é um caminho de rosas, mas há flores de todas as cores e nuances, incluindo espinhos. É um papel que oscila entre leveza e peso.
Não sei se serei mãe biológica novamente. Tem outros jeitos de ser mãe, não é? Mas ainda estou concentrada nesse. Quem sabe outra estratégia como a adoção possa ser considerada?
Estou fazendo minha parte, consciente de que o resto está além do meu controle. E, quem sabe, essa consciência me conduza ao lugar onde expectativas não existem mais. Será que é possível? Afinal, somos seres que sonham, planejam e esperam, mesmo que a realidade muitas vezes nos surpreenda e nos leve por outros caminhos.
Oi,
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